20200314

RESUMO GERAL (depois de a viagem terminada)

MAPA DO TRAJETO:



Relatado por Flávio Faria


INTRODUÇÃO - Viagem realizada por Flávio Faria, Marcus Vinicius Ramos e Gilson Wander, motociclistas de Brasília, nos meses de abril e março de 2020.

MEDIÇÕES - Vou falar apenas por mim. Rodei 10.392 km por 5 países: Argentina (3818 km), Chile (1762 km); Uruguai (357 km); Paraguai (472 km) e Brasil (3983 km), em 22 dias de viagem e 21 pernoites. Foram 39 abastecimentos em 37 diferentes cidades.

A VIAGEM - Viajei na minha Zuzu (uma Tiger 1200 da Triumph), ao lado dos amigos Gilson Wander (Wandeco), numa moto idêntica; e Marcus Vinicius (Markim) numa BMW GS 1200. Rodamos em velocidades moderadas por todo o trajeto, o que nos permitiu registrar média inimaginável de 18,5 km/l. Não usamos bauletos laterais, que aumentam o consumo consideravelmente.
O projeto original "seria" nós três irmos juntos até Pucon, no Chile, passando pelo Passo Pehuenche no caminho de ida. Marcus Vinicius iria nos deixar em Pucon e seguir solo pra Ushuaia. Eu e Gilson retornaríamos de lá, trafegando pelo litoral chileno até Copiapó, por onde pretendíamos atravessar o Passo San Francisco (travessia Chile para Argentina). Esse Passo, dentre tantos atrativos, impõe o desafio de superar 470 km sem combustível e outros 150 km de rípio (cascalho), além das altitudes andinas acima dos 4700 m. Mas isso vai ficar pra uma próxima vez!!!! Não fizemos esse trajeto, infelizmente! A moto do Gilson, zerada, teve problemas no botão de ignição e ele teve que rebocá-la para a concessionária em Mendoza, fato que o obrigou a separar-se de nós pelo caminho. Ele sequer entrou no Chile por conta disso! Demos um jeito de nos reencontrar na volta, em Córdoba. Markim também não chegou em Ushuaia, porque o vento o derrubou no trecho de rípio nas proximidades de General Gregores. Uma fratura na mão direita o impediu de continuar. Mas isso será relatado a seu tempo.


Da Esquerda pra direita: Marcus Vinicius, Gilson e Flávio (eu)


Minha Zuzu, pronta pra viagem (Triumph Tiger 1200, 2017/17)


PARTE NACIONAL DO CAMINHO DE IDA, ATÉ RIVERA (URUGUAI)

1. Fizemos o trecho brasileiro em 3 dias (entre 16 e 18/2/2020), com exatos 2405 km de Brasília a SANTANA DO LIVRAMENTO/RS, ao lado de RIVERA, Uruguai.

2. Saímos num domingo, dia 16/fevereiro, por volta das 7h30 e pernoitamos em BAURU/SP, nesse primeiro dia. Foi duro constatar que nesta cidade não tinha nada funcionando, com exceção dos semáforos demoradíssimos (sempre no vermelho). Depois de pilotar 930 km, pensamos em comemorar o início da aventura com uma boa cervejinha gelada, mas não conseguimos sequer um misto quente (meus amigos paulistas chamavam misto quente de "Bauru"). Tudo fechado! Pedimos uma telepizza e comemos nas dependências do hotel Copaíba, onde nos hospedamos.

3. O segundo pernoite, no dia 17, foi em ERECHIM/RS, depois de rodar 860 km. Parece muito, mas estávamos tranquilos, parando bastante pra fotografar e para pequenos lanches. A estrada não pesou! Novamente, desta vez numa segunda-feira, pegamos tudo fechado na cidade! Nós três doidim pra comer um churrasco gaúcho e nada! Fechamos a noite tomando cerveja numa loja de hot dog, o único local disponível que encontramos, depois de gastar uma baba de táxi.

4. Na chegada a ERECHIM percebemos que o pneu traseiro da moto do Gilson estava furado, mas não havia esvaziado completamente. Estávamos a 5 km da cidade e tentamos chegar lá. Não é que havia um borracheiro a menos de 1 km do local? Ele não sabia como retirar a roda da moto por causa do eixo cardã e fez o atendimento usando aquele macarrãozinho tapa-furo (que eu levava nas minhas tralhas). Achamos que o problema estaria resolvido mas, na manhã seguinte, quando nos preparávamos pra deixar a cidade, o pneu estava do mesmo jeito (semi arriado). Seguimos para outra borracharia, especializada em moto, e fizeram a vulcanização do furo. Tudo certo, mesmo considerando que foram mais de 2h nesse procedimento.

5. Chegamos por volta das 15h em SANTANA DO LIVRAMENTO no terceiro dia de viagem. Deu pra passear bastante em RIVERA,  no lado uruguaio. Uma cidade bem cuidada e muito bem servida de restaurantes e lojas que vendem de tudo a preços bem convidativos, por se tratar de zona franca. Ficamos no excelente hotel Jandaia, que fica a alguns metros da rua que separa o Brasil do Uruguai.


Rivera/Uruguai


Rivera/Uruguai

Rivera/Uruguai

Tira-gosto e cerveja em Rivera
Markim em sua GS1200

Rivera/Uruguai
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Pneu furado do Wandeco


20200308

CHEGANDO NA ARGENTINA PELO URUGUAI

1. Atravessamos os 357 km do Uruguai sem percalços. De Rivera fomos pra Collón, na província de Entre Rios, na Argentina. Pradarias extensas, arroios, pastagens verdejantes e muito gado. Pouquíssimas árvores de porte por todo o caminho uruguaio, exceto as cultivadas artificialmente. Quase não se vê cidades pelo trajeto, excetuando Taquarembó e Paysandu... e raros são os postos de gasolina. Já fiquei sem combustível nessa região em duas ocasiões diferentes. Foi bom constatar que de Taquarembó em diante fizeram uma boa reforma na rodovia. As estradas por ali eram muito precárias em passado recente.

2. Existe uma ponte muito bonita ligando o Uruguai à Argentina (ponte General Artigas), entre as cidades de Paysandu e Collón. São 2350 m de extensão sobre o rio Uruguay. Uma obra de engenharia magnífica, inaugurada em 1975. A aduana binacional fica antes da travessia desta ponte e é cobrado pedágio de 50 pesos uruguaios ou 100 pesos argentinos para seguir adiante. Não aceitam outro tipo de moeda. Não adianta negociar!

3. Paramos quase 1h em Collón pra abastecer, fazer um lanche e aproveitar o wifi no posto da YPF. Esse fato merece destaque, porque é raro no Brasil! Na Argentina, Uruguai e Chile todos os postos de gasolina dispõem de internet gratuita.

4. De Collón demos uma esticada até Rosário, um município de 1,3 milhão de habitantes, para  nosso quarto pernoite. Dormir em cidade grande não faz muito nosso estilo, mas Markim precisava fazer a revisão dos 20 mil km da GS 1200 e lá havia concessionária BMW. Nossa ideia era passar 2 dias na cidade por conta disso, mas a revisão da moto foi super rápida. Na Argentina existe o horário da Siesta entre meio-dia e 16h e, depois, as lojas reabrem até às 22h. Como chegamos antes das 16h, foi possível fazer o serviço sem delongas. A moto entrou na oficina minutos após nossa chegada e a entregaram revisada por volta das 19h. O trânsito em Rosário é bem organizado e tranquilo, mesmo se tratando de uma cidade grande. Não tivemos dificuldade de chegar ao hotel Ariston. Comemos uma farta parrillada num restaurante nas proximidades. Caímos pra trás com o preço da cerveja. Uma Quilmes litro estava variando entre 210 e 280 pesos, dependendo do local. Considerando a cotação do peso nas casas de câmbio de Brasília, esse valor superava os R$ 22,00. Putz, eu lembro de ter tomado esta mesma cerveja por menos de R$ 5,00 há alguns anos.








Rosário


20200307

NA ARGENTINA

1. Saímos de ROSÁRIO logo após o parco desayuno do hotel Ariston. Nunca espere dos hotéis argentinos cafés da manhã ao estilo Brasil. Eles são econômicos nisso! Algumas médias lunas e duas variedades de fruta já podem ser consideradas um desjejum excelente por aqui.

2. As cidades interioranas na Argentina são um espetáculo à parte. Muito bem cuidadas, com dezenas de pracinhas e parques, ruas largas, sem lixo ou folhas espalhadas pelo chão e muitíssimo arborizadas. Dá gosto ver ruas, passarelas e ciclovias ladeadas de plátanos enormes, plantados com distâncias exatas entre um e outro. Passamos boa parte do dia entrando e saindo desses pequenos municípios. Valeu muito a pena!

3. Nosso destino de hoje, dia 20/fevereiro (quinta-feira), foi a belíssima cidade de SÃO LUÍS, capital da província de mesmo nome, com 420 mil habitantes, onde chegamos antes das 16h. Reservamos hotel pelo  caminho (hotel Quintana), usando o wifi de um posto YPF. Demos uma sorte danada, porque além de barato, o hotel dispunha de piscina térmica com barzinho. Nada como ficar imerso na água quente depois de cumprir 3680 km desde Brasília.





EM MALARGÜE -  INÍCIO DOS PROBLEMAS DA VIAGEM

1. Resolvemos pernoitar no dia 21/fevereiro (sexta-feira) em MALARGÜE, uma cidade muito bonitinha, com menos de 30 mil habitantes, localizada dentro de uma região paleontológica na província de Mendoza. Nossa ideia era curtir a cidade, fazer boas caminhadas e descansar para o dia seguinte, quando pretendíamos realizar a travessia da Cordilheira dos Andes pelo Passo Pehuenche, com destino ao Chile.

2. Foi nesse trecho que os problemas começaram, que nos obrigaram a separar o grupo! A moto Tiger 1200 do Gilson Wander começou a apagar pela rodovia. Foram diversas ocorrências pelo caminho! O motor desligou com a moto em movimento por dezenas de vezes. Não foi difícil perceber que o problema estava no botão liga/desliga da moto. Aquele dispositivo vermelho, que se aciona para dar partida. Algo ali estava estranho! Como se houvesse uma mola o empurrando para a posição "desliga". Estava complicado, porque no meio de uma aceleração o motor desligava por si, sem qualquer aviso prévio.

3. Em Malargüe tentamos contato com o atendimento internacional da Triumph e nada! A ligação caía numa caixa postal. Putz, a moto tinha acabado de fazer 5 mil km. Zeradíssima e ainda na garantia! A Triumph tem fama de ser "inquebrável", mas parece que o passar dos anos não tem sido favorável a nenhuma marca. As BMW, Harley Davidson, Hondas e outras marcas já não são tão duráveis como os modelos mais antigos. Estão "embarcando" tecnologia demais, desnecessária na maioria dos casos. Eu possuo motos Triumph desde 2014 e rodei mais de 130 mil km em duas Tiger 1200 diferentes, sem qualquer problema até então. Foi decepcionante ver o amigo passar por esse perrengue, com uma moto recém retirada da loja. O mais decepcionante foi o chamado pós-venda da marca. Esperávamos no mínimo algum tipo de orientação ou assistência. Ficamos a ver navios em plena aridez patagônica...

4. Como há concessionária Triumph em MENDOZA (a 380 km de Malargüe), Gilson optou por levar a moto pra lá, num guincho contratado a 300 dólares na própria cidade. Em CONCEPCIÓN, no Chile, cerca de 500 km adiante (onde Markim iria trocar os pneus de sua BMW), também havia concessionária Triumph, mas  arriscar a travessia dos Andes, com a moto naquele estado, passou a ser um fator de risco! Não havia segurança de chegar do outro lado da Cordilheira. Nos mais, pelo adiantado da hora, teríamos que fazer a travessia no período da tarde, que é desaconselhável por conta do frio após as 16h e da possível formação de gelo na pista.

5. No dia 22/fevereiro (sábado), por volta do meio-dia, a moto foi levada pra Mendoza, com Gilson junto.

6. Eu e Markim saímos pra fazer o PASSO PEHUENCHE, sem a companhia do amigo.




Moto sendo levada pra concessionária em Mendoza




20200306

PASSO PEHUENCHE

1. Quando eu e Marcus Vinícius saímos de Malargüe, já passava do meio-dia, depois de a moto do Gilson subir no guincho. Repito que era dia de sábado, 22/fevereiro (isso será importante pra entender a via crucis do amigo Gilson com a moto quebrada). Fomos na paz,  encarar a travessia dos Andes  com destino ao Chile, por um dos passos mais "baixinhos" da Cordilheira, o Passo PEHUENCHE, que chega a uma altitude máxima de 2560 msnm (medida da rodovia).

2. O Passo é lindo! Mesmo não sendo um dos trechos andinos dos mais conceituados, tem belezas muito parecidas com as do Passo de Água Negra, onde estivemos no ano retrasado. Aliás, vale lembrar que pelas imediações de Mendoza existem quatro passos pela Cordilheira: Passo de Los Libertadores (o mais famoso, por causa dos Caracoles Chilenos); o Água Negra (o mais arriscado, por ter longas quilometragens de rípio); o Vergara (o mais curto) e o Pehuenche. Desses passos, já passei por três. Vou ficar devendo o Vergara para algum outro momento.

3. E lá fomos nós, com muitas paradas pra fotos e filmagens. Nosso próximo pernoite seria em Chillán, que possui os termas mais famosos do Chile. Fizemos uma travessia tranquila, surpreendentemente sob forte calor. As fotos falam por si:












20200305

NO CHILE

1. Chegamos em Chillan, já no Chile, por volta das 17h do dia 22/fevereiro, sábado, depois da travessia das montanhas andinas. De modo geral, as aduanas chilenas são muito demoradas, mas desta vez não foi! Um funcionário simpático fez uma revista rápida na bagagem e não perdemos tempo no procedimento.

2. Em Chillan (que se pronuncia Tijan) saímos em busca dos famosos Termas. Foi decepcionante saber que os "termas de Chillan" nada têm a ver com a "cidade de Chillan". Eles ficam a mais de 100 km de distância, cerca de 15 municípios depois. Mas mesmo assim, resolvemos encarar de conhecê-los, já que o sol estava se pondo às 20h30. Lá fomos nós por uma rodovia estreita, super congestionada. Nos finais de semana a frequência é absurda! A decepção número 2 foi descobrir que os Termas ficam em hotéis caríssimos! E mesmo nos chamados "públicos" são cobrados ingressos entre 14.000 e 60.000 pesos apenas para passar o dia. Os acessos são por estradas não pavimentadas, com muitas pedras e areia fofa. Numa desses trechos off road, fui obrigado a fazer uma curva de 180 graus num terreno empedrado e super inclinado. Decepção 3: CAÍ COM A MOTO! Não só caí como fui deslizando morro abaixo cerca de 3 metros. Rapidamente vieram 3 pessoas me ajudar a levantá-la. Na queda, senti uma dor forte no braço esquerdo. Pensei que tinha quebrado, sinceramente. Só recuperei os movimentos 3 dias depois, a base de anti inflamatórios e relaxante muscular.

3. Voltamos pra cidade de Chillan numa frustração terrível. As hospedagens nos Termas giraram em torno de R$ 1.000,00 a diária, geralmente em "hotéis-cassino". Não dava pra encarar esse valor! A noite nos pegou pelo caminho, dentro de um engarrafamento de perder de vista. As ultrapassagens eram sempre arriscadas e o trânsito não fluía. Decepção 4: Eu e Markim  nos perdemos um do outro! Havia dezenas de entradas para a cidade de Chillan dessa rodovia e cada um pegou uma diferente. Cacilda! Markim estava atrás de mim. Como foi se perder no meio de um trânsito tão lento???? Voltei pra procurá-lo, perguntei pros Carabineiros se havia tido algum acidente no trecho, e nada... Eu estava nas últimas de cansado depois de tantos perrengues num mesmo dia (guincho, duas aduanas, travessia da Cordilheira, uma queda e 200 km de congestionamento no caminho dos termas). Parei no primeiro hotelzinho vagabundo que vi pelo caminho, um tal de Los Cardinales. Aliás, dar nota zero pra esse hotel seria um elogio! Pelo menos tinha wifi. Quando entrei no zap havia recado do Markim, que havia se hospedado em um hotel a menos de 1 km do meu. Fui me reencontrar com ele no dia seguinte e tomei café da manhã no hotel que ele havia se hospedado (já que o porcaria onde fiquei não oferecia esse serviço).

4. Enquanto isso, Gilson Wander chegou a Mendoza no guincho e encontrou a concessionária Triumph fechada. Só iria reabrir na quarta-feira! Teve que negociar com o segurança da loja para a moto não ficar na rua, porque a área de estacionamento também estava fechada. Na Argentina, como no Brasil, tem feriado de carnaval, pra nossa surpresa! Putz, pegar feriado em Mendoza, com os hotéis ao preço que estavam, foi um problema! Na primeira noite, numa situação emergencial, ele encarou o hotel Raíces Aconcágua ao preço de 108 dólares. No dia seguinte, trocou para o hotel Puerta do Sol, a um preço mais módico de 33 dólares. Teve que passar 4 noites na cidade (maravilhosa, diga-se de passagem), apenas para aguardar a concessionária abrir. Ainda bem que isso não demandou muito esforço, porque Wandeco adora vinho, o melhor produto de Mendoza.

FOTOS DE MENDOZA: